30.7.08

PLATÓNOV de Anton Tchékhov
Teatro de São João
encenação de Nuno Cardoso

Um espectáculo de quatro horas que prova, definitivamente, que esta peça, considerada irrepresentável, é importante no universo de escrita de Tchékhov e pode suscitar extraordinárias soluções de construção, visto que é também uma peça exigente.
Tem um movimento frenético de acções e emoções e uma personagem central, Platónov, capaz de uma deriva constante entre crueldade e fragilidade, que exige, de um actor, muita transfiguração.
Para mim, que sempre gostei de estações de comboio e da eminente possibilidade de outra vida que sempre convocam, a solução das linhas de caminho de ferro, que domina todo o espaço, constitui uma das marcas sensíveis do espectáculo. Tem outras; um corpo aprisionado, perdido, no meio de cena, e Platónov, eufórico e temeroso, escondido na sua secretária de mestre-escola.




























Após longos meses de penúria ofereço(-me) uma viagem que inclui espectáculo de teatro, alojamento e jantar simpático. O Porto, num abrir e fechar de olhos!
O meu quarto de pensão barata tem o charme especial dos sítios com mobiliário antigo. Abro a varanda e sente-se o pulsar nocturno da cidade. Mesmo no quarto andar, é um som forte, de vida a acontecer. Com as suas ruas sinuosas e casas de pedra escura, é uma cidade protectora, um esquisso de telhados, brumas e gaivotas estridentes.
Na manhã seguinte, antes do regresso a Coimbra, tempo para conhecer um café com mesas verdadeiras e tranquilos leitores de jornal e descobrir, por acaso, a Rua Cândido dos Reis, a Cooperativa Cultural Gesto e um armazém de tecidos. A cidade cosmopolita, da "cultura urbana emergente", paredes meias com o Porto gracejador marialva.
A caminho da estação, testo a minha capacidade de orientação no metro. Alguma nabice, facilmente solucionada com ajuda alheia e um "num tem de quê menina". Se me chamam "menina", tem de ser uma cidade amiga!
Penso em como o metro devolveu, ao Porto, alguma qualidade de vida, facilitando a deslocação das pessoas num circuito urbano extenso, reduzindo a circulação automóvel e em como as resistências de Coimbra ao metropolitano de superfície, não fazem sentido.
Escrevo, numa espécie de gíria economicista; o Porto é uma cidade "com enorme potencial". Carregada de história, tem uma arquitectura diversa e fulgurante, tem um rio enorme e simpático, o mar ali à porta, instituições e equipamentos importantes como Serralves, a Casa da Música, o Teatro de São João, o "Glorioso" e não consegue ter um poder local dialogante e imaginativo, comprometido com as necessidades das pessoas. Felizmente, essas pessoas vão dando sinal de conseguirem organizar-se em movimentos cívicos, que poderiam constituir exemplo reivindicativo para outras cidades.

22.7.08

















PINK miúda LOOKING INSIDE

Por dentro do ser, há muito ser, profundo, com muitas formas e cores.
Há arco íris verdadeiros. Há castelos de gelado com natas. Um gato, chamado Estrela, a brincar ás escondidas. Um rato de estimação, dentro do gato Estrela. Experiências de verdadeiros cientistas loucos (com luvas). Pratos de sopa vazios. Palavras que nunca acabam, para as histórias da avó. Um vento maluquinho. Peixes prateados. E um rio pequenino, de apanhar seixos com o meu irmão.

19.7.08

Parabéns ao Nelson Mandela!
…e que África cumpra os desígnios de autonomia e paz que são a sua luta.

Nelson Rolihlahla Mandela nasceu a 18 de Julho de 1918.

18.7.08























Vamos ver as montras! A expressão parece antiquada.
Não é por termos banido esse acto diletante, meio aburguesado, dos nossos quotidianos frenéticos, é mais porque gostamos de ruas com ar condicionado e passarinhos em colunas de som.
Vamos ver as montras?! …Ou vamos ver-nos nas montras?
De qualquer forma, as montras estão cheias de papel de jornal, com letreiros "vende-se", ou "trespassa-se".

15.7.08

Pensávamos nós que um ministro em silêncio é um homem reunido com os seus secretários a conhecer a matéria das suas preocupações, a planificar, a estabelecer consensos, a definir estratégias…
O Ministro da Cultura que, finalmente, se deu a conhecer ao país, em dois "lençois" do caderno principal do Expresso, revelou-nos que a cultura vai continuar no mesmíssimo grau zero dos interesses nacionais.
Uma linha de crédito para aquisição de obras de arte(?), outra linha de crédito para os artistas complementarem a sua formação (?), uma plataforma informática 3D para divulgar os museus nacionais (?), grandes empresas mecenas (?), criar (mais?) cursos na área das artes (?), fazer mais com menos (????)…
Ainda bem que decidiu reabilitar o Palácio da Ajuda, pois quer parecer-nos que não é um sítio inspirador.

11.7.08

O excelentíssimo senhor Presidente da Câmara, o Comité da Passadeira Vermelha e do Fogo de Artifício e os digníssimos orgãos de comunicação social de Coimbra inauguraram, ontem, com a benção da Rainha Santa, uma rotunda de escala mediana, com um pequeno arbusto central, cabisbaixo e surpreendido com a solenidade.
Pensamos que se trata de uma extraordinária e inovadora obra de engenharia e talvez prefigure uma especial tendência da cidade para seguir em círculo. Aguardamos pois, com ansiedade, a candidatura a Cidade Universal das Coisas Medianas e Redondas.

nota: o arbusto foi o único que não sorriu para a fotografia!














MATÉRIA DE POESIA
espectáculo com poemas de Sophia de Mello Breyner,
Carlos de Oliveira, Adélia Prado, Manoel de Barros e Alexandre O'Neill

A Escola da Noite em PINHEL no Cine Teatro São Luís
12 de Julho 21.30h

7.7.08

Temos de, ou temos que? (ir!)
















A companhia alemã BERLINER ENSEMBLE, apresentará a sua mais recente produção, "Peer Gynt", de Ibsen, com direcção de Peter Zadek, 12 e 13 de Julho na sala principal do Teatro Municipal de Almada.


LOU REED interpreta o álbum «Berlin» em dois concertos em Portugal, no dia 19 Julho no Campo Pequeno, em Lisboa, e no dia 20 em Loulé. O ex-Velvet Underground contará em palco com cerca de trinta pessoas, entre as quais o New London Childrens Choir e o director musical Bob Ezrin, o produtor original de «Berlin».

5.7.08

a arte
a aarte
a aaarte
(pausa)
a aaaaaaar-te
(pausa longa)
das triiiiiiiipas,
cooooooraaaaaação…

_
versão coral do poema "Arte"

Das tripas,
coração.

de Adélia Prado, no espectáculo "Matéria de Poesia" d'A Escola da Noite

4.7.08

Estudo cromático para um AZUL IMPOSSÍVEL


Tudo isto feito de pó, e sempre duas tintas predominando, a do mar azul e a do céu azul, uma esverdeada como uma solução de sulfato, a outra infinita e etérea.

Azul, azul vivo, azul que a luz trespassa e estremece, azul que não tem limites.

… o azul vivo, o azul esplêndido.

Os Pescadores (excertos)
Raul Brandão

3.7.08













… o grotesco de todos os dias, quando do outro lado galopa e
passa uma coisa sôfrega e imensa.

O Doido e a Morte (excerto)
Raul Brandão

1.7.08






























Era uma vez…
[uma história, no sentido descendente]

1































duas… três… e quatro…

2
































…o mesmo macaco chinês, o gato que toca piano…

3






























e a sereia que fala francês…

4






























…o rato do panelão, a carocha da janelinha…

5






























…o príncipe-sapo cortês e a Conceição… do capuz vermelho, das sandes de salpicão e do lobo…
Era uma vez… duas… três…
Era… verão!…