25.4.09

















…este, existia em Viseu e tinha umas pinceladas minhas, feitas aos 10 anos, num dos primeiros aniversários do 25 de Abril, ou 1º de Maio, a que o meu pai me levou. Encontrei-o por acaso, fui à procura dos murais pintados que existiam na Avenida Sá da Bandeira, quando vim para Coimbra.



















Alguns dos cerca de oitocentos murais documentados no Centro 25 de Abril da Universidade de Coimbra.

16.4.09

(…) acho que de facto não fui nada infeliz. Mas não me lembro muito bem. Não tinha uma consciência exacta do que acontecia à minha volta. Todavia, lembro-me de não falar muito, de ser uma menina timidíssima. Vivia naquele restaurante lindo… Um restaurante é um lugar maravilhoso para uma criança… havia sempre muita gente e sucediam sempre coisas muito estranhas. É um backgraund que nunca desejei perder. às vezes sentia-me triste, não sei porquê. Era uma sensação, uma nostalgia de alguma coisa…
É verdade que passava muito tempo debaixo das mesas desse restaurante. Mas só porque nunca queria ir deitar-me, queria sempre ficar levantada até tarde. Por isso, enfiava-me debaixo das mesas para que os meus pais se esquecessem de mim e não me mandassem para a cama.

(…) Acho que tive sempre o complexo dos pés. Sempre tive pés enormes, e desejava tanto ter pés pequenos e flexíveis como as mãos. O meu pai, lembro-me bem, tinha uns pés muito, muito grandes. E eu já calçava sapatos com o número 41 aos doze anos, já tinha os pés que tenho hoje, mas nessa época tinha muito medo que continuassem a crescer.
À noite, na cama, rezava a Deus para que os meus pés não ficassem tão compridos como os do meu pai. (…)

excerto de entrevista a Pina Bausch, O Teatro de Pina Bausch, Leonetta Bentivoglio, edições ACARTE, 1994

13.4.09

DECISÕES
Devemos ser capazes de superar facilmente um estado lastimável, ainda que com uma energia forçada. Levanto-me da poltrona, dou a volta à mesa, solto a cabeça e o pescoço, deixo os olhos ganhar luz, distendo os músculos à sua volta. Vou ao encontro de todos os sentimentos, recebo A. de forma esfuziante quando ele chegar, aceito amavelmente B. na minha sala, absorvo sofregamente, quando vem C., tudo o que se diz, apesar do sofrimento e do esforço. Mas, mesmo que as coisas se passem assim, cada erro que não possa ser evitado entrevará tudo, o que é leve e o que é pesado, e eu vou ter de andar para trás em círculo. Por isso, o melhor conselho é aceitar tudo, comportarmo-nos como uma massa pesada e, ainda que nos sintamos impelidos por um vendaval, não ceder à tentação de dar um único passo desnecessário, olhar para os outros com olhos de bicho, não sentir o menor arrependimento, esmagar com as próprias mãos aquilo que ainda resta da vida como um fantasma, ou seja, aumentar ainda o último silêncio, próprio do túmulo, e não aceitar mais nada a não ser ele. Um gesto característico de um estado de espírito como este é o de passar com o dedo mínimo pelas sobrancelhas.

Kafka, Meditação / Parábolas e Fragmentos
[gesto 16, excluído do espectáculo "Atravessando as palavras há restos de luz", in Livro de Gestos, no programa do espectáculo]















A Escola da Noite
com encenação de António Augusto Barros
Teatro da Cerca de São Bernardo
até 26 de Abril
quarta a sábado 21h30
domingo 16h00

6.4.09

Tomo um pedaço do meu coração, envolvo-o com cuidado em alguma folha de papel escrita e dou-to.

Kafka, carta a Oskar Pollak (citada por Pietro Citati, Kafka — Viagem às profundezas de uma alma)