27.5.10

(...) Confesso que me senti muito inquieto pensando na extraordinária delicadeza e fragilidade da lua. É que a lua fabrica-se, habitualmente, em Hamburgo e é de péssima qualidade. Admira-me que a Inglaterra não preste atenção a este facto. O fabricante é um tanoeiro coxo, e vê-se logo que é um imbecil, não tem a mínima noção do que é a lua. Utilizou uma corda suja de alcatrão, e uns restos de azeite de lâmpada rançoso; por isso, é terrível o fedor por toda a terra; é obrigatório tapar o nariz. Daí que a própria lua seja uma bola tão frágil que as pessoas não podem viver nela, pelo que só lá moram narizes. É por esta mesma razão que não podemos ver os nossos próprios narizes, uma vez que estão todos na lua. (...)

in "Diário de um louco", Nikolai Gógol, 1834
o texto integral foi trabalhado numa oficina de teatro, coordenada pel'A Escola da Noite, com os alunos do primeiro ano de Estudos Artísticos.

13.5.10

Escrita mínima, a 13 de Maio

Os mangas de alpaca, desta repartição, ainda não recuperaram da revelação recente do derradeiro segredo.
Estamos em crise! Decretou o nosso Ministro, com toda a pompa e circunstância, em bloco central, para que não restem dúvidas. Em C-R-I-S-E, definitivamente e ninguém nos vai valer!... Até porque farrapos de nuvens vulcânicas nos separam dos céus... Talvez se as nossas preces forem em islandês...
Nada a fazer, aguardamos, com o muito pouco que nos resta, o miraculoso-plano-financeiro-estratégico-agressivo que possa salvar-nos da ruína anunciada.