1.9.13

Escrita mínima

Não é uma metáfora, o senhor X está mesmo no armário, enquanto um pequeno morcego se atira às paredes da sala.
A menina X está numa reunião importantíssima e as suas intervenções vão sendo interrompidas pelo ruído das SMS's do senhor X, com suplicantes pedidos de socorro. Pequeno drácula, peludo, sobrevoa, ameaçador, o espaço doméstico. Encerrado no armário, com uma garrafa de whisky. Aguardo resgate. Não tenho gelo...

31.8.13


fotografia Russell Lee

17.8.13

Escrita mínima

Diminuir a tristeza? Afinal, era diminuir a despesa!

11.8.13

Escrita mínima

Depois do jantar, o senhor X e a menina X costumam permanecer no terraço, estirados numa rede sob o céu imenso. O senhor X rabisca umas coisas. Lentidão rima com Verão, inferno com...
A menina X riu-se. Um escrito tolinho para uma noite estrelada e acrescentou; podíamos aproveitar e fazer umas quantas anotações, agora que o universo se parece com um esboço optimista e os problemas crónicos podem sempre ganhar outros contornos.

10.8.13

Escrita mínima

Pés no marrr, cabeça no arrr; escreveu o senhor X, na areia fina da praia...

9.8.13

Escrita mínima

Escrever no escuro, serpentear com as palavras...

21.7.13

Escrita mínima

Tudo na mesma; pensa a lesma. Da zoologia, à nossa realidade política. - Anotou o senhor X, no seu caderninho novo.

15.7.13


Do lugar em que temos razão
jamais crescerão
flores na primavera.
O lugar em que temos razão
está pisoteado e duro
como um pátio.
Mas dúvidas e amores
escavam o mundo
como uma toupeira, como a lavradura.
E um sussurro será ouvido no lugar
onde houve uma casa
que foi destruída.


Yehuda Amichai, "O lugar em que temos razão"
Da revista: "Poesia Sempre", nº8, Fundação Biblioteca
Nacional, 1997

[poema trabalhado num atelier de cenografia com
Marta Carreiras, no Teatro Meridional]

19.6.13


© Marriette Tosel
in "O armário psicótico"

18.6.13

entre reflexos
 

17.6.13

água mole e pedra dura

 

15.6.13

panos da Guiné



29.4.13

Escrita mínima

Maaaarrr...
As sapatilhas e as meias na mão. Os pés no mar. O mar ainda frio, do norte, mas cheira a tempo novo. O tempo tem esta capacidade de se fazer novo e de resgatar sazonalmente as pessoas. O Abril-Maio das lutas novas, pensa o senhor X...

20.4.13

Escrita mínima

Manhã de sol e o senhor X diverte-se com a sua sombra no muro caiado. Há glícínias em queda...

10.4.13


Escrita mínima

O senhor X criou o slogan para o seu negócio-inovador-empreendedor-tire-partido-da-crise. INSIDE THE BOX: seja um congelado-gaspar com estilo, caixas isotérmicas de vários tamanhos e cores.

21.3.13

numa parede da Alta...




4.2.13




Novas diretrizes em tempos de paz
texto Bosco Brasil
encenação António Augusto Barros
actores Igor Lebreaud, Miguel Lança


CLAUSEWITZ: Eu estava no palco quando os alemães cruzaram a fronteira do meu país. Como todas as noites. A companhia decidiu nem interromper a sessão. Mas no dia seguinte o teatro estava fechado. Fiquei em casa. Foi a primeira vez em dez anos que eu passei uma noite fora do palco. Tanta coisa tinha acontecido na Polónia, tanta coisa tinha acontecido na Europa! E eu, no palco, esse tempo todo. Por isso eu acho que foi uma espécie de alívio quando não tive que fazer minha maquiagem naquela noite. Acho... acho cheguei mesmo a pensar que, afinal, tinha chegado a hora de viver a vida. (Tempo) A vida... (Tempo) Os dias foram passando e eu não saí para a rua. Via tudo da janela. Eu não sabia o que fazer no meio daquela confusão. Eu era um actor! Não sabia carregar uma arma, não sabia curar uma ferida... O melhor era ficar em casa. Até ao dia em que foram me buscar. Não tive medo, não. Achei outra vez que, de alguma maneira, eu estava vivendo. Vivendo enquanto eu presenciava todo o horror. Porque era a única coisa que eu podia fazer: estar presente. E guardar na memória. (Tempo) Eu estava presente quando mataram professor Cracowiack. Eu estava presente quando encontraram o corpo do meu pai, que tinha se suicidado com um arame no pescoço. Eu estava presente quando meus amigos cairam metralhados na fuga pela fronteira. Eu estava presente quando deixei minha mulher no hospital de Paris, esperando para morrer. Eu não vivi. Eu colecionei lembranças.
O navio apita. Segismundo olha o relógio.

Novas diretrizes em tempos de paz, BOSCO BRASIL, (excerto)

3.1.13

Escrita mínima

Coisa feita; coisa por fazer; coisa feita; coisa por fazer... O senhor X, concentrado no seu exercício de arrumação pessoal, faz anotações na sua nova agenda. É uma espécie de perpétuo movimento e, ao terceiro dia do ano, ainda se permitia algum optimismo. A coisa traçada, grosseiramente e lança-se agora a uma última rabanada que sobrara dos festejos natalícios. Já estava um pouco dura mas, o seu sabor forte de canela, remata bem a noite. Lá fora, um vento caínho segue veloz e o senhor X pensa que é o tempo a rir-se de si.

2.1.13

O humor escarninho de Gil Vicente n'A Escola da Noite. Na verdade, já temos saudades...