26.4.10

1JOSÉ
o último espectáculo da TRILOGIA sobre Rubem Fonseca teve como mote, na sua construção, o poema "José" de Carlos Drummond de Andrade.



A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?


Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde?

21.3.10





















© Marion Post Wolcott 1941 (publicidade)

18.3.10

Trilogia #1José #2Ruben #3Fonseca

6.3.10

[escrito around]

era uma vez...
e gostava de dançar
round and round
rodopiar
sob uma lua vermelha
azul
azul-vermelha
"under the serious moonlight"
com os seus sapatos pretos
antiquados
[porque ninguém lhe comprara
uns fashion ones]
e volteava
rodopiava
round and round

26.2.10















© William Henry Jackson

25.2.10






















© António Barros|UC



[do monólogo, coisa pública]
programação integrada na XII SEMANA CULTURAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA >>> MÚSICA Solo I e II | ANTÓNIO PINHO VARGAS 1 de Março | segunda | 21h30 | no Teatro Académico de Gil Vicente >>> TEATRO Vulcão | de Abel Neves | com CUSTÓDIA GALLEGO | 2 de Março | terça | 21h30 | Teatro da Cerca de São Bernardo >>> TEATRO Historias Tricolores ou de como aqueles animaliños proclamaron a república | CÁNDIDO PAZÓ | 3 de Março | quarta | 21h30 | Teatro da Cerca de São Bernardo >>> TEATRO Concerto à la carte | de Franz Xaver Kroetz | com ANA BUSTORFF |4 de Março | quinta | 21h30 | Teatro Académico de Gil Vicente >>> TEATRO Mary Stuart | DENISE STOKLOS | 5 de Março | sexta | 21h30 | Teatro Académico de Gil Vicente >>> TEATRO Calendário da Pedra DENISE STOKLOS | 6 de Março | sábado | 21h30 | Teatro da Cerca de São Bernardo

22.2.10

Escrita mínima

O fulgor das magnólias refloridas, talvez um sinal de tréguas na paisagem; escreveu o senhor X, subindo no eléctrico 703...

5.2.10

MARCINHA

[...] O que eu queria falar na nossa primeira reunião era sobre a minha compulsão por comer chocolate, não falei porque ficou sendo apenas o dia da nossa apresentação e eu disse que o meu nome era Marcinha, mas como está todo o mundo abrindo o coração, quer dizer, abrindo um pouco, quero começar dizendo que o meu nome não é Marcinha, esse é um pseudónimo e isso não chega a ser uma falsidade porque eu sempre quis me chamar Marcinha e vocês podem me chamar de Marcinha. Mas eu falava da minha loucura por chocolate. Como chocolate todo o dia e engordo todo o dia, e a coisa que eu mais gostava era ir à praia, e cada ano o Verão é mais forte, mas não tenho coragem, desisto, me sinto humilhada quando vejo meu corpo no espelho, com maiô inteiro que comprei e que nem mesmo as coroas usam mais.
[...] Não vou falar muito mais. Eu não desisto. Tenho sempre barras de chocolate na minha casa, um dia tranquei a despensa e joguei a chave fora, mas algumas horas depois arrombei a porta da despensa e devorei várias barras sem parar, o que acabou desarranjando os meus intestinos. Bem, eu disse que ia falar pouco e vou terminar. Outro dia eu estava em casa, de tarde, vendo televisão, e quando fui pegar um chocolate notei que havia acabado. Saí correndo desesperada para comprar chocolate no supermercado que fica perto da minha casa e quando já estava lá dentro, em frente a uma prateleira cheia de chocolates variados, percebi que não havia levado a bolsa e não tinha um tostão comigo. Me senti tão infeliz que comecei a chorar em frente à prateleira, eu não ia aguentar mais um minuto sem comer um pedaço de chocolate. Então coloquei uma barra pequena no meu seio, o peito grande serviu pelo menos para isso, e saí com a barra escondida e logo que cheguei na rua devorei o chocolate. Mas a minha vontade não passava e eu, e eu, o negócio é abrir o coração, não é?, e eu corri para outro supermercado e fiz a mesma coisa, apanhei duas barras e fugi com elas, e comi as duas na rua e depois fui na padaria e apanhei, agora três barras, escondi no peito e comi logo em seguida na rua. Acho que minha história é a pior de todas. [...]

excerto de "Agora Você",
in "Secreções, Excreções e Desatinos", 2001
RUBEM FONSECA








Espécie de escrita

As gaivotas, engraçadinhas, costumam atravessar o rio, fazendo-se passar por um ameaçador crocodilo.
Quando saem da água, fazem um sorriso aberto e pedem uma moeda aos turistas que se passeiam nas margens.

4.2.10

GAMBOZINOS (com ó) e PEOBARDOS...


3.2.10

29.1.10

desenhado pela Laura

21.1.10

A propósito do Haiti, um poema de Carlos de Oliveira;

Terra
sem uma gota
de céu.

20.1.10








um cerejal de inverno
















Pisão

19.1.10

Escrita mínima

Na sessão solene de reabertura deste sítio, o senhor X referiu que vai escrever em desacordo ortográfico...

18.1.10

Escrita mínima

Após vários dias de "conversação", ponderação e acertos, decreta-se a reabertura oficial deste sítio, ainda que os mangas de alpaca desta repartição se queixem dos ordenados congelados e do sorriso amarelo da administração.

7.12.09






© circa
Gosto de estações.

27.10.09









estrela el gordito
Escrita mínima

O senhor X escreveu, com a sua caneta de aparo reluzente; caderno novo e vida nova.
A menina X viu aquilo e decidiu acrescentar um sorriso, desenhado a esferográfica verde fluorescente e reticências.
Os mangas de alpaca, incrédulos, aproveitando aquele momento de rara intuição e convergência de sinais positivos, decidiram trincheirar as paredes da repartição, exigindo o pagamento de um subsídio por esforço contínuo, o prémio, que havia sido congelado, de mérito intelectual acrescentado de fim de semana e o pagamento das elucubrações a desoras e reticências reticências reticências.
As revoluções podem bem acontecer, onde menos se espera.

14.10.09

Escrita mínima

O senhor X decretou uma espécie de pousio para si próprio e para os melancólicos mangas de alpaca da repartição. Talvez assim, quem sabe, possamos significar alguma coisa, mais tarde.
A menina X parece ser o caso de excepção; com a sua gabardine azul turquesa e os seus sapatos verde-choque, tem ar de florescer todos os dias.

1.10.09

desenhado pelo Hugo


29.9.09

Escrita mínima

O senhor X é um optimista e deixou-se inebriar pelo Sócrates "bonzinho" da campanha; pelo seu "arrependimento" na Cultura, o seu tom suave e cuidadoso, o seu humor...
Na noite de 27, lá estava o velho ministro a cantar a sua vitória "extraordinária", sublinhada no seu tom costumeiro, com a ajuda do seu dedinho, para o seu opositor Louçã, para que não restassem dúvidas.
Não obstante o tom agreste-crispado de Louçã, o senhor X pensa que será, certamente, dos poucos a conseguir rrrresponder-lhe, nestes anos que se avizinham... turbulentos, turbo/lentos(?).

15.9.09




Um corpo pequeno e franzino, para uma voz enorme e uma dança que parece ser um meio para o exercício pleno da palavra. Coisas fantásticas, disse ela.

25.8.09

Escrita mínima

A menina X escreveu: os gatos estão sempre à espera do que possa acontecer. É claro que o gato de janela, lá da repartição, é mais de provocar a história e, por isso, já vai na sua quarta vida...

19.8.09






















… ainda não é um iphone, mas consegue "apanhar" as manhas do bicho lá de casa!

16.8.09

Escrita mínima

A menina X entrou de rompante e disse que o safado do X tinha problemas de adjectivação. Problemas com os adjectivos; sublinhou.
Pareceu-nos que isto sim, poderia ser uma epidemia. O senhor X não estava sozinho neste seu "desaguisado" íntimo e a coisa podia propagar-se rapidamente.

12.8.09

Escrita mínima

Erros horrográficos e uma ausência tónica; gritou o Senhor X. Os mangas de alpaca, na repartição, entreolharam-se ruborescidos.

28.7.09






















Merce Cunningham (16 Abril 1919 - 26 Julho 2009), retratado por Annie Leibovitz, em 1997, e em "Changeling", fotografado por Richard Rutledge. Um bailarino e coreógrafo que revolucionou o discurso artístico, não apenas da dança.
Na impossibilidade técnica de colocar aqui "Beach Birds", com música de outro mestre, seu companheiro de estrada; John Cage, aconselhamos uma pesquisa internáutica pelo youtube, ou no sítio da Merce Cunningham Dance Company www.merce.org.

22.7.09

a propósito de ESTE OESTE ÉDEN
de Abel Neves





21.7.09
























A terra sempre à nossa frente e sem podermos agarrá-la… igualzinha à água… quem pode agarrar a água?

ESTE OESTE ÉDEN
Abel Neves

6.7.09























este oeste éden

texto inédito de Abel Neves
encenado n'A Escola da Noite por Sílvia Brito
vai estrear no Teatro da Cerca de São Bernardo

5.7.09






















Desenhar jardineiros com as palavras de Abel Neves!…

30.6.09

…cravos para PINA BAUSCH













© Silvia Lelli Masoti















© Enrica Scalfari

NELKEN (Cravos)
Wuppertal, 1982

29.6.09

















Hoje, segunda, pelas 21h30, A Escola da Noite — em colaboração com o Núcleo de Estados para a Paz e o Observatório sobre Género e Violência Armada do Centro de Estudos Sociais —, acolhe no Teatro da Cerca de São Bernardo a ante-estreia de “Luto como Mãe”, filme sobre violência armada urbana, realizado por Luís Carlos Nascimento.

Depois da exibição, terá lugar um debate com o realizador e uma das intervenientes no documentário, Elizabeth Paulino, onde serão discutidos os impactos diferenciados da violência armada, bem como exemplos de militância colectiva contra a violência.

O Observatório sobre Género e Violência Armada (OGiVA), recém-criado no Centro de Estudos Sociais, visa desenvolver estudos, análises e recomendações práticas para políticas e programas sobre feminilidades, masculinidades e (in)segurança em contextos de violência armada na Europa, países africanos de língua portuguesa e países da América Latina.

“Luto como Mãe”, com duração de 70 minutos, será projectado na sala de espectáculos do Teatro da Cerca de São Bernardo e tem entrada livre.



LUTO COMO MÃE

Realização Luis Carlos Nascimento Fotografia Tiago Scorza Montagem/Edição Fabian Remmy Produção Executiva Tatiana Moura, Mercia Britto, Carla Afonso Produtor associado Rodrigo Letier Banda Sonora JJ Aquino e Wladimir Rocha Mistura Bernardo Gebara Vídeo grafismo Stanio Soares Produção Cinema Nosso , TVZERO e Jabuti Filmes

22.6.09










IRÃO!
© Stringer/Iran/Reuters
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20.6.09

zooconsiderações

A estação maravilhosa do pé-no-chinelo tem um senão considerável — a melga — esse animal feroz, que faz a ruína das nossas noites e acabou, há muito, com a poesia dos verões estrelados. Parece que o ser criador, acometido de algum sarcasmo, transformou os anjos que desafinam, em demoníacas melgas sibilinas…

As formigas, que possuem asas, só as utilizam no estrito cumprimento das suas quotidianas funções. Nada de voos altos. Esvoaçar apenas, perto do formigueiro, transportando pacientemente os seus víveres…

12.6.09

coisas do olhar