28.11.08

O senhor X determinou que não podíamos andar a "encher chouriços" no argumento da sua blog(o) novela e regressou de Paris, ontem mesmo, com a menina X.
Por um lado, era eu que andava a tentar transformar os seus devaneios em desenho e esperava assim poder esticar o tempo, esticando também as histórias. Por outro lado, a menina X não me simplifica a tarefa e todos os dias tem novas instruções e exigências sobre a sua personagem.
Lá fui buscá-los ao aeroporto e apercebi-me de alguma tensão entre os dois, especialmente, no momento de arrumar as cinco malas e um saquinho, no carro. Após muita tentativa, cálculos de volumetria e muita discussão, lá regressámos enlatados, em amuo colectivo, ao som de "Divine Comedy".

26.11.08

Parece que o senhor X se deixou reter em Paris: a neve (embora escassa!), o Festival d'Automne, o desnorte na esquerda francesa, a Martine Aubry, Ségolène Royal, enfim… Quem não gosta da ideia é a menina X, que já ameaçou vir embora, sozinha, com as suas cinco malas e a sua caneta especial, tipo…

20.11.08

Tentei dissuadir o senhor X de interromper, abruptamente, a sua blog(o) novela, dizendo-lhe que Madame Lagafffe estava a exercitar a sua ironia, logo a seguir ao almoço, no calor da conversa…
Apesar de tudo, preferia voltar — respondeu-me convicto.
A-vizinha-do-quarto-andar chama-se, agora, menina X e vai chegar com as suas cinco malas cheias de objectos fundamentais.
Lá em casa, vamos parecer "A Comunidade" do Luiz Pacheco. O gato já se ofereceu para dormir no colo da menina X, o interveniente-sentado-na-cadeira-de-verga-a-olhar-para-a-janela decidiu, finalmente, ensaiar uma nova desordem para o seu quarto e encontrar algum espaço, sob a profusão de fios eléctricos ensarilhados, os cinco rádios, a emitirem, simultaneamente, em diferentes ondas e frequências e as revistas, empilhadas em vários montes simétricos.
A menina X vai também poder utilizar este sítio e ter uma caneta especial, tipo…

19.11.08























Vamos regressar, com urgência, antes mesmo que decidam decretar seis meses sem democracia. — Escreveu o senhor X. — Enquanto não arranjarmos um quarto andar, ficamos aí em casa! — Assinado: X.

14.11.08

Recebemos um postal, muito breve, enviado pelo senhor X.
Ainda não vi a Torre Eiffel. Fico ainda algum tempo! — Assim escreveu, numa caligrafia a preceito, rematando com uma assinatura barroca… a esferográfica… de tinta verde choque… e cheiro a limão.
O gato, o-interveniente-sentado-na-cadeira-de-verga-a-olhar-para-a-janela e eu própria sentimo-nos como que espoliados.
Na sua secretária, ficou a caneta de tinta permanente com aparo reluzente e o caderninho de apontamentos…
Ter-se-á esquecido?!… Se calhar, decidiu ser outro X e encaixar, definitivamente, no universo POP CHOC da vizinha-do-quarto-andar.

13.11.08

O senhor X anda muito atarefado com os preparativos da sua viagem a Paris. Encontrou um voo lowcost na net e pediu-me que lhe arranjasse um monograma para bordar nas suas camisas… Ou teria sido um monograma para, EU, bordar nas suas camisas?!
Na verdade, tive ainda de produzir um autocolante, que colocou na sua mala com o seguinte escrito: JE M'EN FOUS DE SARKOZY, J'AIME LE THÉÂTRE!
O senhor X, assim que chegar a Paris, passará pelo Eliseu para um solene protesto e, só depois, terá o seu happy beginning com a-vizinha-do-quarto-andar.

12.11.08

Abri a caixa de correio e, no meio das minhas contas a pagar, um postal colorido com uma Torre Eiffel, destinado ao senhor X.
Assim que lho entreguei, o seu rosto reacendeu-se e o senhor X elevou-se como uma personagem de Chagall.
Anda agora por aí, às voltas sobre os telhados, a gritar o seu amor perfeito e a sua vizinha-do-quarto-andar recuperada.
O gato, muito inquieto, produz uns ruídos estranhos, os mesmos que faz aos pássaros desmiolados, que voam nos céus da sua janela.

8.11.08

A árvore grande, nas traseiras lá de casa, inaugurou o seu ciclo amarelo intenso. Quando estamos prestes a zangar-nos com a cidade, há sempre um pequeno nada que pode devolver-nos o sentido do gosto.

7.11.08

EPISÓDIO 1

5.11.08

RARA MANHÃ DE OPTIMISMO

A manhã fez-se azul e solarenga, após a longa maratona eleitoral nocturna. O senhor X saiu cedo de casa e encontrei-o na esplanada do café Santa Cruz. Olheirento, bebia uma taça de champanhe e comia castanhas assadas. Disse-me que o mundo acordara melhor.
O senhor X é um optimista… e o mundo precisa de mais manhãs de optimismo.
De seguida, pediu-me que lhe emprestasse dinheiro para o almoço…