25.11.11

A desenhar animais nocturnos
com as palavras de Juan Mayorga...

11.11.11

Escrita mínima

Talvez se houvesse um pouco menos de precisão nos dias; pensou o Senhor X. Talvez pudessem acabar um bocadinho depois, ou antes. Esta ditadura dos dias parecia-lhe quase tão difícil como a do capital.

10.11.11



© Nocole Bengiveno, The New York Times

2.11.11

da Baixa à Alta




1.11.11

Serra do Montemuro

29.9.11

Escrita mínima

A menina X gritou da janela de sua casa que HAVIA-PESSOAS-COM-A-SENSIBILIDADE-DE-UMA-ERVILHA.
Tanta hostilidade só poderia dirigir-se ao nosso governo, ou talvez a Frau Merkel...

22.9.11

Escrita mínima

O senhor X pratica caminhada. Todas as manhãs, num exercício de autodisciplina exemplar, percorre, ao contrário, a enorme avenida onde habita.
Ao contrário, precisamente, caminhando para trás, em passo lento e concentrado, acompanhando o mundo.

4.8.11

Escrita mínima

Easy living... before really (really) hard days! Escreveu o senhor X, no seu caderninho.

3.7.11

En el teatro, todo es cuestión de realidad.

in Teatro Menor
de José Sanchis Sinisterra

2.7.11



composição de imagens/inspiração para "Teatro Menor"
de José Sanchis Sinisterra
com encenação de António Augusto Barros
n'A Escola da Noite / Junho 2011

29.6.11

Figurinos para "Teatro Menor"

Um grupo de actores vindo de um lugar e de um tempo indeterminados, errando pelo espaço, sem identidade definida, uma espécia de humanidade sobrevivendo, passando pelo espectador, entre a ideia de magia do teatro e a ideia de resistência ao tempo.
Os figurinos devem parecer que foram vestidos desde sempre. Uma certa unidade pode estabelecer-se a partir do riscado dos tecidos para fato do século passado, do vermelho do teatro e também das históricas parelhas do cinema, do teatro e da literatura: Laurel e Hardy, Harpo e Grouxo, Dom Quixote e Sancho Pança, Jacques e o seu amo, Cândido e Pangloss, bem como de figuras como Charlot, Vasco Santana, António Silva, Ribeirinho, Monsieur Hulo, etc.
Acentuar os pares, quer pelas suas semelhanças, quer pelas suas diferenças.
Trabalhar o lado clownesco de algumas personagens.
Os actores representam várias personagens diferentes, mudando de forma camaleónica, quer em bastidor, quer frente ao público, utilizando muitos dos figurinos e calçado que fazem parte do espaço cénico.
O calçado, disposto em filas no espaço, representa a "grande caminhada da humanidade". Tal como o chapéu de coco, confere existência a quem o usa. Tirar partido do som de alguns sapatos.
Tratar a ambiguidade sexual, especialmente no texto "Miragens".
Utilizar alguns elementos de viagem: malas, sacos, pequenas sacolas penduradas, mochilas.
Trabalhar a convenção e os referentes teatrais, na sua construção e desconstrução.
Cores: preto, branco, bege, vermelho/carmim...




















25.4.11

Escrita mínima

A menina X desenhou um cravo com o seu baton carmim, na parede branca da repartição e alguém acrescentou a palavra R(E)EVOLUÇÃO.

15.4.11

Escrita mínima

Não estamos em crise! Não estamos em crise! Não estamos em crise! Não estamos em crise! — Repetir sincopadamente, após as refeições, seguido de copo de água. — Exercício recomendado ao senhor X e restantes mangas de alpaca desta repartição, por sentirem, subitamente, fortes indícios de vidas num oito e nuvens cinzentas sobre as suas cabeças.

12.4.11

6.4.11

Sócrates being

Ser? — Escreveu o velho actor, com giz branco, no soalho escuro do teatro, dividido entre o que fora e o que ainda queria ser.
Como? — E continuava a escrever.
Já experimentara muitos seres, alguns ajustavam-se na perfeição, outros divergiam, como se não coubessem em si. Podia dizer-se que transbordava de ser e, no entanto, faltava-lhe ainda.
Ser! E não ser! — E continuava, enchendo o espaço de palavras brancas, que brilhavam com a luz dos projectores...

9.3.11

Escrita mínima

Bolas, para a maçã; escrevinhou o senhor X no seu caderninho, enquanto o seu computador colapsava logo ali.
Companheiro de muitas jornadas, era agora apenas uma máquina vencida, sem qualquer possibilidade de reanimação.
E ainda por cima a crise... A crise em todos os flancos.
Que "mais" inventar, para tamanho "menos"?
Restava a caneta, a fiel caneta BIC BIC BIC...

28.2.11

Escrita mínima

Imbróglios tecnológicos; escreveu o senhor X. O computador decidiu-se por um boicote generalizado, faltam os cabos S, Y e J e os tais adaptadores acabadinhos de lançar no mercado e os outros que só E tem.
... e também nos falha a eficácia no papel e na caneta; concluiu!

26.2.11







Algo extraordinário aconteceu no Egipto; a coragem e a possibilidade de autodeterminação, o que é mais significativo do que qualquer "revolução facebook".

24.1.11

Hoje é o primeiro dia do resto da(s) nossa(s) vida(s)... segunda-feira, ao som de Sérgio Godinho, para contrariar o discurso crispado e intimidante do Presidente de todos nós.

17.1.11

© Derek Hess

29.12.10

Escrita mínima

Se atares a tua sombra a uma das pernas da tua cadeira, ela acabará por te levar onde não podes ir...
O senhor X colocou esta frase no seu caderninho, com a sua caneta nova, como uma espécie de exercício de abordagem a um novo ano.
Escrita mínima

A menina X descobriu um trevo de quatro folhas no meio de um velho livro de receitas de cozinha, num antiquário. Na verdade, não acredita nestes sinais, mas pareceu-lhe emocionante encontrar, por acaso, uma pequena planta seca, que um desconhecido guardou cuidadosamente, entre páginas e páginas e páginas...

6.12.10

Escrita mínima

O senhor X gosta de celebrar o amarelo brilhante das tardes de Outono, no Jardim Botânico.
Este ano, quase não chegava a tempo. De galochas, guarda-chuva e cachecol ainda conseguiu convencer a menina X a fazer um passeio selvagem, entre chuvas intensas, ventos e árvores enlouquecidas.

29.10.10

#1
Desenhar corações efémeros com as
palavras de PALOMA PEDRERO...




14.10.10

Escrita mínima

O senhor X escreveu; hoje somos todos mineiros, resgatados de um qualquer buraco escuro.

"Vance has trapped for several years in a West Virginia coal mine at 75 cents a day for 10 hours work. All he does is to open and shut this door: most of the time he sits here idle, waiting for the cars to come. On account of the intense darkness in the mine, the hieroglyphics on the door were not visible until plate was developed."



© Lewis Hine, 1908

23.9.10

Escrita mínima

Exercício de evasão; escreveu o senhor X, quando olhava os seres voadores da imagem.



© circa 1900, "Sailing on the beach, Detroit Publishing Company.

22.9.10

Um caracol atravessa um muro caiado, seguindo uma linha esguia de sol, o gato espreguiça-se indiferente, passa um rapaz de bicicleta e é uma manhã lenta de Outono.

20.9.10



Penn Station, 1910, autor desconhecido

Gosto de estações.

6.9.10

Escrita mínima

Na parede branca da repartição, estava escrito com a caligrafia redonda da menina X: PARI(S)! PARI(S)! PARI(S) SANS SARKOZY!

20.8.10

Ainda não foi desta que fiz as pazes com o mês de Agosto e não vou na cantiga das manhãs luminosas, dos dias longos, dos céus estrelados. Estou sempre de pé atrás com o mês de Agosto e já me traiu várias vezes. Ficamos ali a olhar para a natureza na sua magnífica pujança e a engrenagem do mundo sem saber seguir-lhe a sugestão.
Escrita mínima


15.7.10

Escrita mínima

O senhor X escreveu no seu caderninho novo que se sentia um zero, contudo um zero expressivo... um zero vírgula qualquer coisa...

6.6.10







© John Vachon


Escrita mínima

O senhor X escreveu no seu caderno, com a sua caneta de aparo reluzente, sobre a economia sem ética, a tal do lucro invisível, do lucro não partilhado, dos desempregados culpados, do estado só de alguns, do estado impossível, da inconstitucionalidade-mas-ás-vezes-por-razões-de-força-maior...

27.5.10

(...) Confesso que me senti muito inquieto pensando na extraordinária delicadeza e fragilidade da lua. É que a lua fabrica-se, habitualmente, em Hamburgo e é de péssima qualidade. Admira-me que a Inglaterra não preste atenção a este facto. O fabricante é um tanoeiro coxo, e vê-se logo que é um imbecil, não tem a mínima noção do que é a lua. Utilizou uma corda suja de alcatrão, e uns restos de azeite de lâmpada rançoso; por isso, é terrível o fedor por toda a terra; é obrigatório tapar o nariz. Daí que a própria lua seja uma bola tão frágil que as pessoas não podem viver nela, pelo que só lá moram narizes. É por esta mesma razão que não podemos ver os nossos próprios narizes, uma vez que estão todos na lua. (...)

in "Diário de um louco", Nikolai Gógol, 1834
o texto integral foi trabalhado numa oficina de teatro, coordenada pel'A Escola da Noite, com os alunos do primeiro ano de Estudos Artísticos.

13.5.10

Escrita mínima, a 13 de Maio

Os mangas de alpaca, desta repartição, ainda não recuperaram da revelação recente do derradeiro segredo.
Estamos em crise! Decretou o nosso Ministro, com toda a pompa e circunstância, em bloco central, para que não restem dúvidas. Em C-R-I-S-E, definitivamente e ninguém nos vai valer!... Até porque farrapos de nuvens vulcânicas nos separam dos céus... Talvez se as nossas preces forem em islandês...
Nada a fazer, aguardamos, com o muito pouco que nos resta, o miraculoso-plano-financeiro-estratégico-agressivo que possa salvar-nos da ruína anunciada.

26.4.10

1JOSÉ
o último espectáculo da TRILOGIA sobre Rubem Fonseca teve como mote, na sua construção, o poema "José" de Carlos Drummond de Andrade.



A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?


Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde?

21.3.10





















© Marion Post Wolcott 1941 (publicidade)

18.3.10

Trilogia #1José #2Ruben #3Fonseca

6.3.10

[escrito around]

era uma vez...
e gostava de dançar
round and round
rodopiar
sob uma lua vermelha
azul
azul-vermelha
"under the serious moonlight"
com os seus sapatos pretos
antiquados
[porque ninguém lhe comprara
uns fashion ones]
e volteava
rodopiava
round and round

26.2.10















© William Henry Jackson

25.2.10






















© António Barros|UC



[do monólogo, coisa pública]
programação integrada na XII SEMANA CULTURAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA >>> MÚSICA Solo I e II | ANTÓNIO PINHO VARGAS 1 de Março | segunda | 21h30 | no Teatro Académico de Gil Vicente >>> TEATRO Vulcão | de Abel Neves | com CUSTÓDIA GALLEGO | 2 de Março | terça | 21h30 | Teatro da Cerca de São Bernardo >>> TEATRO Historias Tricolores ou de como aqueles animaliños proclamaron a república | CÁNDIDO PAZÓ | 3 de Março | quarta | 21h30 | Teatro da Cerca de São Bernardo >>> TEATRO Concerto à la carte | de Franz Xaver Kroetz | com ANA BUSTORFF |4 de Março | quinta | 21h30 | Teatro Académico de Gil Vicente >>> TEATRO Mary Stuart | DENISE STOKLOS | 5 de Março | sexta | 21h30 | Teatro Académico de Gil Vicente >>> TEATRO Calendário da Pedra DENISE STOKLOS | 6 de Março | sábado | 21h30 | Teatro da Cerca de São Bernardo

22.2.10

Escrita mínima

O fulgor das magnólias refloridas, talvez um sinal de tréguas na paisagem; escreveu o senhor X, subindo no eléctrico 703...

5.2.10

MARCINHA

[...] O que eu queria falar na nossa primeira reunião era sobre a minha compulsão por comer chocolate, não falei porque ficou sendo apenas o dia da nossa apresentação e eu disse que o meu nome era Marcinha, mas como está todo o mundo abrindo o coração, quer dizer, abrindo um pouco, quero começar dizendo que o meu nome não é Marcinha, esse é um pseudónimo e isso não chega a ser uma falsidade porque eu sempre quis me chamar Marcinha e vocês podem me chamar de Marcinha. Mas eu falava da minha loucura por chocolate. Como chocolate todo o dia e engordo todo o dia, e a coisa que eu mais gostava era ir à praia, e cada ano o Verão é mais forte, mas não tenho coragem, desisto, me sinto humilhada quando vejo meu corpo no espelho, com maiô inteiro que comprei e que nem mesmo as coroas usam mais.
[...] Não vou falar muito mais. Eu não desisto. Tenho sempre barras de chocolate na minha casa, um dia tranquei a despensa e joguei a chave fora, mas algumas horas depois arrombei a porta da despensa e devorei várias barras sem parar, o que acabou desarranjando os meus intestinos. Bem, eu disse que ia falar pouco e vou terminar. Outro dia eu estava em casa, de tarde, vendo televisão, e quando fui pegar um chocolate notei que havia acabado. Saí correndo desesperada para comprar chocolate no supermercado que fica perto da minha casa e quando já estava lá dentro, em frente a uma prateleira cheia de chocolates variados, percebi que não havia levado a bolsa e não tinha um tostão comigo. Me senti tão infeliz que comecei a chorar em frente à prateleira, eu não ia aguentar mais um minuto sem comer um pedaço de chocolate. Então coloquei uma barra pequena no meu seio, o peito grande serviu pelo menos para isso, e saí com a barra escondida e logo que cheguei na rua devorei o chocolate. Mas a minha vontade não passava e eu, e eu, o negócio é abrir o coração, não é?, e eu corri para outro supermercado e fiz a mesma coisa, apanhei duas barras e fugi com elas, e comi as duas na rua e depois fui na padaria e apanhei, agora três barras, escondi no peito e comi logo em seguida na rua. Acho que minha história é a pior de todas. [...]

excerto de "Agora Você",
in "Secreções, Excreções e Desatinos", 2001
RUBEM FONSECA