26.6.12





em lugar algum
dentro da casa
em cima da mesa
uma janela
e uma árvore
dentro da janela
e um pássaro
em cima da árvore
e um raio de sol
em cima da mesa
enchendo a janela
sobre a árvore
por dentro do pássaro
e o pássaro
cantando
por nada

13.1.12

Escrita ainda mais pequena

O senhor X referiu que não era culpa sua, nem do gato preto, nem da sexta-feira que era treze, ou do escadote que teimava em passar por cima das pessoas...

11.1.12

Escrita mínima (verdadeira) II

Hoje, pareceu ao senhor X que a árvore cantava em modo furioso...

10.1.12

Escrita mínima (verdadeira)

O senhor X diz que a árvore das traseiras canta todos os dias. Arvoresce numa grande chinfrineira, emprestando os seus galhos de poucas folhas aos muitos pássaros que aí passam a noite.
Pelas sete horas (hora de inverno), são imensos os cantares diferentes em desafio. Passada uma boa meia hora, fazem silêncio absoluto e sucedem-se os ruídos da cidade a começar.

2.1.12

© John Vachon 1940

Escrita mínima

Hoje, é o primeiro dia útil do ano — anotou o senhor X, mesmo ali, na ponta da toalha de papel sobre a mesa, onde também acabara de fazer as contas à sua vida.
Tinha-se esquecido de comprar uma agenda. Quem sabe se os dias deste ano conseguem organizar-se melhor sozinhos...

25.11.11

A desenhar animais nocturnos
com as palavras de Juan Mayorga...

11.11.11

Escrita mínima

Talvez se houvesse um pouco menos de precisão nos dias; pensou o Senhor X. Talvez pudessem acabar um bocadinho depois, ou antes. Esta ditadura dos dias parecia-lhe quase tão difícil como a do capital.

10.11.11



© Nocole Bengiveno, The New York Times

2.11.11

da Baixa à Alta




1.11.11

Serra do Montemuro

29.9.11

Escrita mínima

A menina X gritou da janela de sua casa que HAVIA-PESSOAS-COM-A-SENSIBILIDADE-DE-UMA-ERVILHA.
Tanta hostilidade só poderia dirigir-se ao nosso governo, ou talvez a Frau Merkel...

22.9.11

Escrita mínima

O senhor X pratica caminhada. Todas as manhãs, num exercício de autodisciplina exemplar, percorre, ao contrário, a enorme avenida onde habita.
Ao contrário, precisamente, caminhando para trás, em passo lento e concentrado, acompanhando o mundo.

4.8.11

Escrita mínima

Easy living... before really (really) hard days! Escreveu o senhor X, no seu caderninho.

3.7.11

En el teatro, todo es cuestión de realidad.

in Teatro Menor
de José Sanchis Sinisterra

2.7.11



composição de imagens/inspiração para "Teatro Menor"
de José Sanchis Sinisterra
com encenação de António Augusto Barros
n'A Escola da Noite / Junho 2011

29.6.11

Figurinos para "Teatro Menor"

Um grupo de actores vindo de um lugar e de um tempo indeterminados, errando pelo espaço, sem identidade definida, uma espécia de humanidade sobrevivendo, passando pelo espectador, entre a ideia de magia do teatro e a ideia de resistência ao tempo.
Os figurinos devem parecer que foram vestidos desde sempre. Uma certa unidade pode estabelecer-se a partir do riscado dos tecidos para fato do século passado, do vermelho do teatro e também das históricas parelhas do cinema, do teatro e da literatura: Laurel e Hardy, Harpo e Grouxo, Dom Quixote e Sancho Pança, Jacques e o seu amo, Cândido e Pangloss, bem como de figuras como Charlot, Vasco Santana, António Silva, Ribeirinho, Monsieur Hulo, etc.
Acentuar os pares, quer pelas suas semelhanças, quer pelas suas diferenças.
Trabalhar o lado clownesco de algumas personagens.
Os actores representam várias personagens diferentes, mudando de forma camaleónica, quer em bastidor, quer frente ao público, utilizando muitos dos figurinos e calçado que fazem parte do espaço cénico.
O calçado, disposto em filas no espaço, representa a "grande caminhada da humanidade". Tal como o chapéu de coco, confere existência a quem o usa. Tirar partido do som de alguns sapatos.
Tratar a ambiguidade sexual, especialmente no texto "Miragens".
Utilizar alguns elementos de viagem: malas, sacos, pequenas sacolas penduradas, mochilas.
Trabalhar a convenção e os referentes teatrais, na sua construção e desconstrução.
Cores: preto, branco, bege, vermelho/carmim...




















25.4.11

Escrita mínima

A menina X desenhou um cravo com o seu baton carmim, na parede branca da repartição e alguém acrescentou a palavra R(E)EVOLUÇÃO.

15.4.11

Escrita mínima

Não estamos em crise! Não estamos em crise! Não estamos em crise! Não estamos em crise! — Repetir sincopadamente, após as refeições, seguido de copo de água. — Exercício recomendado ao senhor X e restantes mangas de alpaca desta repartição, por sentirem, subitamente, fortes indícios de vidas num oito e nuvens cinzentas sobre as suas cabeças.

12.4.11

6.4.11

Sócrates being

Ser? — Escreveu o velho actor, com giz branco, no soalho escuro do teatro, dividido entre o que fora e o que ainda queria ser.
Como? — E continuava a escrever.
Já experimentara muitos seres, alguns ajustavam-se na perfeição, outros divergiam, como se não coubessem em si. Podia dizer-se que transbordava de ser e, no entanto, faltava-lhe ainda.
Ser! E não ser! — E continuava, enchendo o espaço de palavras brancas, que brilhavam com a luz dos projectores...

9.3.11

Escrita mínima

Bolas, para a maçã; escrevinhou o senhor X no seu caderninho, enquanto o seu computador colapsava logo ali.
Companheiro de muitas jornadas, era agora apenas uma máquina vencida, sem qualquer possibilidade de reanimação.
E ainda por cima a crise... A crise em todos os flancos.
Que "mais" inventar, para tamanho "menos"?
Restava a caneta, a fiel caneta BIC BIC BIC...

28.2.11

Escrita mínima

Imbróglios tecnológicos; escreveu o senhor X. O computador decidiu-se por um boicote generalizado, faltam os cabos S, Y e J e os tais adaptadores acabadinhos de lançar no mercado e os outros que só E tem.
... e também nos falha a eficácia no papel e na caneta; concluiu!

26.2.11







Algo extraordinário aconteceu no Egipto; a coragem e a possibilidade de autodeterminação, o que é mais significativo do que qualquer "revolução facebook".

24.1.11

Hoje é o primeiro dia do resto da(s) nossa(s) vida(s)... segunda-feira, ao som de Sérgio Godinho, para contrariar o discurso crispado e intimidante do Presidente de todos nós.

17.1.11

© Derek Hess

29.12.10

Escrita mínima

Se atares a tua sombra a uma das pernas da tua cadeira, ela acabará por te levar onde não podes ir...
O senhor X colocou esta frase no seu caderninho, com a sua caneta nova, como uma espécie de exercício de abordagem a um novo ano.
Escrita mínima

A menina X descobriu um trevo de quatro folhas no meio de um velho livro de receitas de cozinha, num antiquário. Na verdade, não acredita nestes sinais, mas pareceu-lhe emocionante encontrar, por acaso, uma pequena planta seca, que um desconhecido guardou cuidadosamente, entre páginas e páginas e páginas...

6.12.10

Escrita mínima

O senhor X gosta de celebrar o amarelo brilhante das tardes de Outono, no Jardim Botânico.
Este ano, quase não chegava a tempo. De galochas, guarda-chuva e cachecol ainda conseguiu convencer a menina X a fazer um passeio selvagem, entre chuvas intensas, ventos e árvores enlouquecidas.

29.10.10

#1
Desenhar corações efémeros com as
palavras de PALOMA PEDRERO...




14.10.10

Escrita mínima

O senhor X escreveu; hoje somos todos mineiros, resgatados de um qualquer buraco escuro.

"Vance has trapped for several years in a West Virginia coal mine at 75 cents a day for 10 hours work. All he does is to open and shut this door: most of the time he sits here idle, waiting for the cars to come. On account of the intense darkness in the mine, the hieroglyphics on the door were not visible until plate was developed."



© Lewis Hine, 1908

23.9.10

Escrita mínima

Exercício de evasão; escreveu o senhor X, quando olhava os seres voadores da imagem.



© circa 1900, "Sailing on the beach, Detroit Publishing Company.

22.9.10

Um caracol atravessa um muro caiado, seguindo uma linha esguia de sol, o gato espreguiça-se indiferente, passa um rapaz de bicicleta e é uma manhã lenta de Outono.

20.9.10



Penn Station, 1910, autor desconhecido

Gosto de estações.

6.9.10

Escrita mínima

Na parede branca da repartição, estava escrito com a caligrafia redonda da menina X: PARI(S)! PARI(S)! PARI(S) SANS SARKOZY!

20.8.10

Ainda não foi desta que fiz as pazes com o mês de Agosto e não vou na cantiga das manhãs luminosas, dos dias longos, dos céus estrelados. Estou sempre de pé atrás com o mês de Agosto e já me traiu várias vezes. Ficamos ali a olhar para a natureza na sua magnífica pujança e a engrenagem do mundo sem saber seguir-lhe a sugestão.
Escrita mínima


15.7.10

Escrita mínima

O senhor X escreveu no seu caderninho novo que se sentia um zero, contudo um zero expressivo... um zero vírgula qualquer coisa...

6.6.10







© John Vachon


Escrita mínima

O senhor X escreveu no seu caderno, com a sua caneta de aparo reluzente, sobre a economia sem ética, a tal do lucro invisível, do lucro não partilhado, dos desempregados culpados, do estado só de alguns, do estado impossível, da inconstitucionalidade-mas-ás-vezes-por-razões-de-força-maior...