(…) acho que de facto não fui nada infeliz. Mas não me lembro muito bem. Não tinha uma consciência exacta do que acontecia à minha volta. Todavia, lembro-me de não falar muito, de ser uma menina timidíssima. Vivia naquele restaurante lindo… Um restaurante é um lugar maravilhoso para uma criança… havia sempre muita gente e sucediam sempre coisas muito estranhas. É um backgraund que nunca desejei perder. às vezes sentia-me triste, não sei porquê. Era uma sensação, uma nostalgia de alguma coisa…
É verdade que passava muito tempo debaixo das mesas desse restaurante. Mas só porque nunca queria ir deitar-me, queria sempre ficar levantada até tarde. Por isso, enfiava-me debaixo das mesas para que os meus pais se esquecessem de mim e não me mandassem para a cama.
(…) Acho que tive sempre o complexo dos pés. Sempre tive pés enormes, e desejava tanto ter pés pequenos e flexíveis como as mãos. O meu pai, lembro-me bem, tinha uns pés muito, muito grandes. E eu já calçava sapatos com o número 41 aos doze anos, já tinha os pés que tenho hoje, mas nessa época tinha muito medo que continuassem a crescer.
À noite, na cama, rezava a Deus para que os meus pés não ficassem tão compridos como os do meu pai. (…)
excerto de entrevista a Pina Bausch, O Teatro de Pina Bausch, Leonetta Bentivoglio, edições ACARTE, 1994
16.4.09
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