15.3.08

mimo urbano

A Dona Conceição toca à minha campaínha, todas as sextas de manhã cedo, com as suas couves, limões, salsa, flores e demais coisas da sua horta, que cultiva "sem produtos" e que sempre me vendeu, sem que eu tivesse oportunidade de recusar.
Insiste em tratar-me por doutora. Mesmo dizendo-lhe que não acabei o curso, diz que não tem importância nenhuma.
Não percebe nada de contas e tem uma má relação com o euro, por isso os preços são sempre arredondados. Tudo custa um euro. Quando são coisas pequenas, cinquenta cêntimos.
Quando não estou em casa, as coisas ficam penduradas na maçaneta da porta. Conta-me sempre as suas desventuras familiares e as histórias da velhice e das doenças e do raio do sistema de saúde e da reforma que não dá para nada.
Pergunta-me sempre pelo "menino".
É claro que, há muito, deixou de ser uma relação comercial, a Tica come as flores que me vende e, nos períodos em que não posso fazer refeições em casa, as coisas apodrecem no frigorífico.

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