27.3.08























© Augusto Baptista
O Canto do Cisne, A Escola da Noite

Todos os teatros têm um fantasma. O nosso é dos simpáticos, limita-se a ranger um pouco, quando ficamos a trabalhar sozinhos à noite e a mudar alguns objectos de lugar, visto que é um arrumadinho compulsivo.
Hoje decidiu tirar a casaca e as luvas da naftalina e disse-me que era o tal dia do teatro, que devíamos comemorar.
A nossa companhia, errando por aí, fora de portas, deixara-nos ficar com a responsabilidade de ultimar várias coisas para uma estreia muito próxima. O meu amigo, que não queria saber de coisas sérias, colocou o champanhe no frigorífico, sacudiu as cortinas de veludo e ligou os projectores no máximo.
Eu gritei-lhe que talvez estivessemos a exagerar, mas ele encolheu os ombros e prosseguiu nas suas inúmeras tarefas, entre as quais indicar-me um vestido e uns sapatos.
Que nem pensasse! — O vestido não me servia e os sapatos altos… vermelhos… Abanou a cabeça e percebi que não havia nada a fazer. Muito contrariada, lá me encaixei nos meus adereços cerimoniais.
Tudo parecia pronto! Os copos das estreias, a música no máximo e o champanhe que se foi bebendo, entre memórias desfiadas de espectáculos vários e dos meus actores preferidos…
Os teatros estão sempre cheios!

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