28.4.08





















Não há uma receita para a criatividade e desenhar figurinos também não obedece a um conjunto rígido de regras, a não ser o respeito pelo trabalho em colectivo.
Cada espectáculo pressupõe um processo artístico especial e uma metodologia apropriada. Tratando-se de uma companhia de reportório, o texto é o ponto de partida. O processo inicia-se com algumas linhas dramatúrgicas que o encenador ou o núcleo de criativos responsáveis pelo espectáculo propõem.
Fazem-se segundas leituras do texto, direccionadas para aspectos concretos que se querem desenvolver e iniciamos uma pesquisa iconográfica, que corresponde a uma recolha de elementos visuais que funcionem como estímulo, que clarifiquem o texto, ou que esclareçam o tempo histórico da acção.
Os ensaios começam e, nesta primeira fase, há algum "trabalho de mesa" — análise aprofundada e discussão do texto, bem como o estabelecimento de alguns pressupostos que servirão como ponto de partida para o trabalho do actor.
Começamos a fazer os primeiros esboços, assistindo aos ensaios. É a experiência, desenvolvida pelos actores no espaço, que condiciona todo o trabalho e que vai testando e afinando as coordenadas estabelecidas para o espectáculo. Por isso, é fundamental discutir a própria concepção de figurinos, não só com o encenador, mas também com os actores, o cenógrafo e o desenhador de luz.
Antes de passar à fase da execução, é importante fazer um orçamento. Os recursos disponíveis são muito limitados, por isso, após uma fase inicial de grande liberdade, há que adequar o devaneio ao que se pode construir de facto.
Fazem-se fichas dos actores, com as suas medidas e algumas características relevantes para o trabalho, compram-se materiais e iniciam-se contactos com a costureira e o alfaiate aos quais temos de entregar também desenhos técnicos, que esclareçam pormenores.
O desenho inicial vai-se ajustando ao próprio jogo do actor e à relação com os outros signos do espectáculo. O figurino é um prolongamento do seu corpo, por isso deve ajudá-lo na sua prática, sem condicionalismos. É uma espécie de fato-objecto-casa, que pode ser manipulado e habitado.
Raramente a concepção é cumprida com rigor absoluto e um figurino chega a uma estreia tal como foi desenhado. Há sempre um longo processo de adaptabilidade ao corpo do actor e ao todo que é o espectáculo. É necessário convencer os actores a fazerem muitas provas e há sempre correcções a fazer, até que tudo se ajuste.
Também é necessário fazer cedências e deixar que um figurino seja menos imponente, ou menos belo, para poder ser mais eficaz no espectáculo. Neste jogo de múltiplas forças, a luz é um factor de equilíbrio determinante. Pode transfigurar, completamente, um figurino, dar-lhe força, ou ignorá-lo em absoluto.

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