Eu tinha oito anos e sentei-me na mesa de trabalho de A. que devia andar pelos dezassete anos e era um aluno sucedido no seu sétimo ano de liceu. Os livros estavam empilhados e ordenados, com as lombadas viradas para o mesmo lado, as canetas perfiladas por cores e os lápis organizados por tamanhos, todos com a ponta de grafite devidamente afiada e voltada para cima. As borrachas estavam limpas e aprumadas e as folhas brancas colocadas no centro, ao alcance da mão.
É claro que não me atrevi a mexer em nada e fui para outro canto com o meu amuo.
Anos mais tarde, foi meu professor. Passado o embaraço inicial, lá conseguimos entender-nos numa relação familiar a fingir alguma distância. Para além de inteligente e metódico, tinha um humor particular que cativava os alunos mas eu mantinha a memória daquela mesa em segredo, como se prefigurasse algo estranho.
É claro que é um ser fantástico, cumpridor zeloso e eu vou nos meus quarenta e dois anos de vida desarrumada.
7.5.08
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